“Até que enfim” (Etta James)
janeiro 23rd, 2011“ Até que enfim meu amor chegou/Meus dias solitários acabaram/E a vida é como uma canção/Ohh sim sim/Até que enfim/O céu está azul/Meu coração ficou coberto de tranquilidade/Na noite em que eu olhei pra você/Eu encontrei um sonho, que eu posso dizer/Um sonho que posso chamar de meu/Eu achei um prazer apertar minha bochecha um prazer que eu nunca havia conhecido/Você sorriu/Você sorriu/E assim o encanto foi lançado/E aqui estamos no céu/Porque você é meu enfim…”
Sou completamente e irrevogavelmente apaixonada por músicas antigas, quando ainda faziam músicas com sentido, quando mereciam pertencer a denominação de música. Ao contrário do material vasto e diversificado que temos disponível hoje em dia, embora a maioria se mostra apenas como “barulho”. Um amigo me disse certa vez, que “a música é um ruído que pensa” (M.S.).
E essa música da Etta James é um excelente exemplo… acompanhada da sua voz inacreditável e de uma personalidade interessante. Mas a letra dessa música me encanta. Reflete o desejo que carregamos conosco com fervor… de que em algum momento encontraremos alguém que nos complete, que nos faça sentir únicos, que nos faça sentir especiais… e que nos faça dizer: “Até que enfim…”
Mas… e quando não encontramos essa pessoa? Ou pior, como viver… sob a perspectiva de que de repente… nós podemos não encontrar???Sobrevivemos da melhor maneira possível, tentando sufocar o que antes era uma certeza…
Agora tornou-se um sonho almejado (praticamente uma ilusão)…
Um desejo segredado em seu coração, devido as várias e várias camadas de uma sucessão de erros e mágoas…
As pessoas casadas há muito tempo olham para você e lançam aquele olhar familiar e superior de “pena”…
Não porque são excepcionalmente felizes, mas, porque confundem o fato de “estar solteira” com “ser miseravlmente solitária”…
E a provação continua… e nas festas de famílias, o pesadelo se torna pior…
Você se afasta ou permanece educadamente sentada, ouvindo enfada as delongas sobre “filhos”, “maridos” e “problemas conjugais intermináveis”…
Cobranças sobre um namorado, um filho ou perguntas intermináveis sobre como anda a vida do seu “ex” e aí tentam consolá-la com “Ah, você ainda vai ser feliz com alguém”, como o fato de dizer isso… pode torná-lo real…
Mas tudo bem, você sorri e enfrenta mais olhares “penalizados”… afinal, “você estar solteira, é sua opção!”
E pessoas das quais não saberiam sobreviver sem apoiar-se num homem, lançam um segundo e mais carregado olhar de “pena”…
Mesmo que esses casamentos perfeitos sejam recheados de traições e indiferenças imperdoáveis… mas permanecem em relacionamentos infelizes porque é apavorante demais “estar em seu lugar” ou acham ainda pior… viver sem a confortável segurança financeira atual…
Ou sempre existe algumas pessoas fúteis e superficiais ao extremo, e dizem: “Deveria encontrar finalmente um marido rico!”E com audácia também a olham com pena, mas, nesse momento é você que se preenche de pena…
Sim, você pode estar sozinha… mas há pessoas ainda mais sozinhas, (sem perceberem) em seus mundinhos dignos e lamentáveis…
E quando chega em casa exausta, deita em sua cama e liga a televisão, porque o silêncio é assustador, mas ainda com a certeza de que se alguém entrar em sua vida… é para fazer valer… para amá-la e respeitá-la… como você compreendeu “até que enfim” ser merecedora…
Mas ainda assim fica se perguntando… como chegou até aqui?!
Como perdeu as esperanças ou (o pensamento mais depressivo e corrosivo) “o que há de errado com você por não estar com alguém”?
Então passa o triller de um filme romântico… beijos aos sons de música, momentos de perdões e reconciliações…
Porque alguém resolveu que era produtivo e benéfico fazer garotinhas acreditarem no “príncipe encantado”…
E você cresce com essa idéia, assim como o falso mito da perda da virgindade será um fato mágico, ou quando você amar pela primeira vez será mesmo… eterno!
E então como sobreviver quando você descobre que tudo que lhe contaram… é apenas uma camuflagem da verdade vil…
Então aí está você… magoada e “solteira”… mas orgulhosa da sua independência pois seus erros ou acertos, a fizeram uma mulher forte e corajosa.
Mas um pouco de romance não seria ruim não é mesmo? Esse e um pensamento do qual teme dizer em voz alta…
Seria muito bom ter alguém para abraçar durante as madrugadas solitárias, ter alguém especial para ligar no fim do dia, ter alguém que agradeça a Deus pela manhã… simplesmente pelo fto de você existir. Você já teve a sa cota de relacionamentos casuais, deseja que alguém fique em vez de ir embora durante a madrugada. Mas… tem que ser alguém tremendamente especial… porque você cansou se contentar “com menos”
Mas… eu garnto, você vai sobreviver… vai ficar tudo bem, acredite…
Pois, mesmo que no fim… a tela escureça e surge os créditos…
Afinal, não importa que Cristopher Plummer esteja com 82 anos e em nada lembra o irresistível Capitão Von Trapp…
A verdade não é tão atraente… mas o sonho… nos transporta e divisa-nos de uma realidade angustiante…
Mas sempre teremos grandes talentos (e não Paris – Casablanca)… que despertam a esperança renegada mas não esquecida…
Afinal… estar sobrevivendo… não significa que em dado momento de sua vida gostaria de gritar, embora hesite em confessar:
“At last…” … (Até que enfim…) e as lágrimas brotam inconscientes…
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